No momento em
que a Suprema Corte aprova o casamento gay e as pessoas estão mudando a cor da imagem do facebook, lembrei de uma
parte da minha pesquisa na qual abordei como eram os casamentos no século XIX, no Seridó.
Para vocês terem
uma ideia as jovens que não casavam
eram enviadas para o convento. O matrimônio representava, para a mulher, uma
provável emancipação a qual, na verdade, significava somente uma permuta de tutelas, do pai para o marido. Quando alguma
mulher, considerada de classe social inferior, praticava relações sexuais antes
do casamento, geralmente, caiam no mundo da prostituição. Já as mulheres de
classes mais abastadas, passavam a ser discriminadas na sociedade e na família,
constituindo-se como um ser infame.
A
maior parte dos casamentos eram “[...] antes de tudo um compromisso familiar,
um acordo, mais do que um aceite entre esposos.” (FALCI,2011,p. 256).Ou seja, o
casamento era antes de tudo um acordo entre duas famílias, no qual os pais dos
noivos buscavam conservar os bens das famílias
e consolidar os laços de amizade entre elas. Assim, os casamentos
aconteciam na maioria das vezes sem sentimento algum “[...] ocorrendo dos
noivos se avistarem pela primeira vez no dia da cerimônia.” (FARIA, 2006, p.59)
A beleza não era condição para que o homem a namorasse, contudo o dote dado
pela família da moça era o motivo principal para que existisse o namoro. No
tocante, as cerimônias de casamento
[...] das filhas dos fazendeiros mais abastados eram
celebrados na fazenda dos pais e nunca na igreja da freguesia em que residiam.
Determinado o dia da cerimônia, os preparativos para a festa
começavam com bastante antecedência. Eram convidados pelos pais dos noivos
todos os parentes próximos e amigos [...]
Na véspera matava-se uma novilha gorda, carneiros, porcos
(para a fabricação de lingüiça), perus e galinhas – ocupando toda uma legião de
cozinheiras e doceiras afamadas que comandavam varias auxiliares. Na sala, era
armado o altar e enfeitado a capricho pelas mãos mais prendadas. Os agregados
providenciavam o corte da lenha da cozinha e jarras e mais jarras abarrotadas
d’ água.
Uma ou duas horas depois era servido o banquete, com uma
variedade imensa de pratos e bebidas, inclusive o aluá, fabricado de milho
fermentado. Durante o banquete, faziam-se ouvir alguns oradores onde muitos repetiam
discursos decorados [...]
Terminadas as refeições, depois de um ligeiro descanso,
começavam-se as danças [...]
O baile começava sempre com uma quadrilha, dançando o noivo
com a noiva e costumava se prolongar até o amanhecer do dia [...] (FARIA, 2006,
p.59-61)
O
casamento só poderia ocorrer com a autorização dos pais, entretanto muitas
jovens casavam sem essa permissão e perdiam o direito a herança. Já outras
moças não aceitando casar com o conjugue escolhido pela família e com receio de
ser deserdada encontraram no “rapto consentido” a resolução para o empecilho.
Nesse sentido, tudo era combinado,
[...] quase sempre por intermédio de uma mucama ou escrava da
casa. Raptada a moça, era depositada pelo noivo na casa de um amigo da família
que ao amanhecer do dia, dirigia-se à casa do pai da noiva para comunicar-lhe o
ocorrido. Neste caso o casamento era realizado na casa da pessoa onde se
encontrava a moça.”(FARIA, 2006, p.59)
Assim,
encontramos no Jornal “O Povo” que uma moça, de 14 anos, foi raptada no dia 16
de julho de 1890, em Caicó, e levada para a casa do major Salviano Batista
pessoa importante da cidade. O rapaz que raptou a moça era “[...] um alugado do
mesmo major [...] (JORNAL O POVO, 24/08/1890)”. Ainda conforme, nota do Jornal
o tio da moça era seu tutor e não autorizava o
[...] casamento, porque o rapaz não lhe merece a sobrinha,
requereu ao juiz de órfãos, dr. José de Sá, que lhe mandasse entregar. O juiz,
depois de muito cogitar, escreveu no
requerimento – indeferido – e por
isso ficou a moça no depósito, sem se efetuar o casamento. Agora o major
Salviano ameaça o tutor de o demitir (!) para nomear outro, e fazer-se o
casamento. Teremos esta demissão – ex-informantará
conscientiá?(O POVO, 24/08/1890)
Agora fico aqui imaginando como os historiadores do
próximo século vão contar a história do casamento gay? Será que as imagens coloridas
do facebook serão fontes de pesquisa?
Trecho da minha dissertação A
Representação das Mulheres e as Questões de Gênero na Toponíma Urbana de
Caicó-RN. Disponível em: http://repositorio.ufrn.br:8080/jspui/bitstream/123456789/16979/1/ClaudiaMA_DISSERT.pdf
Imagens do Google
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